→ Traumatismo dental (dente quebrado). O que fazer?

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O traumatismo dental é um problema comum na Odontologia. Com certeza, você que está lendo esta postagem conhece alguém que já quebrou um dente ou até mesmo você já passou por isso.

É muito importante debater este tema que pode ocorrer com qualquer pessoa. Que profissional procurar, após quanto tempo procurar, o que fazer no momento, todas estas perguntas serão discutidas e debatidas.

1 – O que é Traumatismo dental?

 

O traumatismo dental consiste na injúria aos tecidos dentais, bem como aos tecidos moles que os circundam. A prevalência dessa situação é relativamente alta, com um considerável aumento desta ocorrência na infância.

Os dentes mais afetados são os da região ântero-superior, dando destaque aos incisivos centrais (foto) por se tratar dos dentes mais anteriores, logo, os que recebem o 1º impacto geralmente. Por isso é bastante como, em casos de traumatismo dental, encontrarmos estes dentes quebrados.

As práticas de esportes aumentam consideravelmente a ocorrência de traumatismo dental, variando de um esporte para outro. Em determinados casos, o dano é bem maior do que aparenta. Por isso a intervenção do profissional Dentista é importante.

De maneira geral, os traumas geralmente não provocam a perda do dente de leite ou permanente, contudo, diante dos prejuízos estéticos, funcionais, financeiros e psicológicos, alguns cuidados e recomendações devem ser seguidos para evitar tal situação ou para saber o que fazer caso a mesma ocorra.

2 – Como um dentista pode tratar um dente quebrado por traumatismo dental?

O exame clínico no momento inicial é de fundamental importância para o correto diagnóstico e prognóstico do tratamento.

No momento inicial, através da anamnese, é importante saber como ocorreu o traumatismo dental, quando ocorreu e onde ocorreu (necessidade de intervenção antibiótica e/ou vacinação contra o tétano, caso não tenha realizado), além de outras perguntas.

É importante deixar o cliente calmo neste momento, observar seu grau de consciência, discernimento das ações, capacidade de reconhecer onde está, dentre outras análises que nos permitem analisar o grau de orientação do cliente.

Estes questionamentos são fundamentais para que o dentista já avalie o prognóstico do dente em questão, além de obter informações importantes sobre o estado de saúde geral do cliente (tontura, desmaio, vômito, etc.), visto que estes episódios podem indicar a necessidade de avaliação de um neurologista. Ao realizar a anamnese no cliente ou responsável, o exame físico será realizado a fim de conhecer as características clínicas do local do trauma.

A avaliação dos tecidos moles constitui-se o 1º passo. Em boa parte dos casos, podem-se observar lesões nos tecidos orais moles e da face, como edema (inchaço) ou cortes.

Deve-se higienizar a área para melhor visualização e analisar a possível presença de corpos estranhos no local, podendo ser resquícios de dente ou não. Por exemplo, podemos encontrar pedaços de vidro e sujeiras.

Em seguida, analisam-se os tecidos dentais, através da palpação e percussão, para identificarmos o tipo de fratura e se houve fratura da loja óssea (foto abaixo). Imagine que não existe apenas um dente quebrado, mas sim podemos encontrar traumas em toda a região, motivo pelo qual é importante realizar a verificação.

A identificação do tipo de lesão ocorre neste momento, ou seja, é a fase mais importante da consulta de urgência. Exames radiográficos devem ser utilizados para analisar a extensão e gravidade do trauma bem como localizar possíveis corpos estranhos.

3 – Quais as características clínicas do traumatismo dental e tratamento para cada situação?

Como todo trauma, ocorre uma injúria no local, com sua severidade variando de acordo com o local e a intensidade do traumatismo dental. Uma situação de inflamação no local com edema (inchaço) geralmente acompanha esta situação.

Depois de alguns dias, o dente pode ficar escurecido, em decorrência da quebra dos vasos sanguíneos no interior do mesmo. Isso poderá indicar necessidade de tratamento de canal, visto que o escurecimento também pode vir da necrose pulpar.

O traumatismo dental pode acometer os tecidos duros (tecidos do dente e osso) e estruturas circundantes (periodonto). Estas duas situações podem ou não estar combinadas.

Separando os tipos de traumas a partir do tipo de tecido (dentinários, periodontais e de tecidos duros e moles) lesado, colocarei segundo classificação com seu respectivo tratamento.

Não entrarei em detalhes mais técnicos até mesmo porque a ideia não é formar doutores em traumatismo dental, mas sim empoderá-los com informações sobre o tema para saber o que fazer em situações urgenciais.

A – Trauma em tecidos moles e duros

O trauma localizado nos tecidos extra-orais comumente está associado aos traumas dentais. Podem-se observar edemas (inchaços) no local, com cor variando de vermelho a roxo.

Deve-se lavar o local com solução em abundância para melhor visualização e identificação de possíveis corpos estranhos que podem estar localizados no interior destes tecidos.

O local apresenta sensibilidade ao toque. A palpação no local do trauma deve ser realizada com cuidado, com o intuito de identificar fraturas ósseas no local.

Caso haja dúvida, radiografias faciais podem ser solicitadas para complemento do diagnóstico. Devem-se analisar os movimentos mandibulares (desvio na abertura e fechamento de boca) para identificar possíveis fraturas ósseas.

O tratamento para lesões extra-orais consiste na colocação de curativos e higienização do local, gelo no 1º dia, tendo cuidado para não queimar a pele, sutura do tecido (quando necessário) e prescrição de medicação de for necessário. Caso haja fratura óssea, a redução da fratura está indicada.

B – Fraturas dos tecidos duros dentários:

Fratura incompleta ou trinca do esmalte dentário: fratura que geralmente não apresenta solução de continuidade visível, isto é, não se pode observar o traço da fratura dental. Localiza-se em nível de esmalte e quase sempre não requer tratamento algum, além de apresentar um prognóstico (previsão da situação do problema) excelente;

Fratura não complicada da coroa (foto): envolve o esmalte dentário e a dentina. A porção inervada do dente (dentina) fica exposta ao meio bucal, podendo gerar episódios dolorosos quando em contato com estímulos estéticos. Além de causar prejuízos funcionais, causa também prejuízos estéticos, visto que a fratura é facilmente visível.

O tratamento consiste basicamente na colagem do fragmento dental (quando o cliente o possui) ou na reconstituição da porção fraturada com resina composta.

É fundamental que o cliente guarde o fragmento dental sempre que possível, em um ambiente hidratado, como um recipiente com água, por exemplo, para evitar que o dente sofra um processo avançado de desidratação.

Na totalidade dos casos deste tipo de fratura, o prognóstico é muito bom, dependendo do tamanho da fratura.

Fratura complicada da coroa dentária (foto): neste tipo de traumatismo dental, além do esmalte e dentina, a polpa dentária (nervo do dente) é afetada no trauma. A dor de dente pode ser bastante intensa, o que sugere que o tratamento seja o mais breve possível para amenizar o desconforto.

Clinicamente, além da fratura da coroa, pode-se observar sangramento decorrente da estrutura dentária, pois ocorre a ruptura do feixe vascular da polpa dentária. A fratura, nestes casos, quase sempre se apresenta bem extensa.

O tratamento pode muitas vezes envolver a polpa dentaria, isto é, ocorrerá a necessidade de tratamento de canal.

Algumas vezes, restaurações convencionais não são suficientes para reconstituir o dente, sendo necessário partir para outros tipos de procedimentos que apresentam melhor garantia de longevidade, como pinos dentários.

No caso da dentição decídua (dentes de leite), o tempo de esfoliação (época que o dente cai) deve ser analisado com o dentista para ver se vale a pena deixar o dente na cavidade bucal.

Fratura total da coroa dentária (foto): clinicamente difere do caso acima por apresentar perda total da coroa dentária.

O sangramento é abundante e o tratamento envolve obrigatoriamente a necessidade de tratamento de canal em decorrência da grande injúria à polpa dentária e pela necessidade que as técnicas que serão utilizadas exigem, como a colocação de uma coroa (prótese fixa).

Como os procedimentos de reabilitação oral exigirão retenção radicular (no interior da raiz), há necessidade de intervenção endodôntica (canal) antes.

No caso da dentição decídua, a exodontia (extração dentária) é indicada. É realizada a remoção da coroa fraturada (quando a mesma encontra-se presente), podendo deixar a raiz, uma vez que a mesma será reabsorvida pelo dente permanente, durante sua erupção.

Fratura da raiz dentária (foto): as forças oriundas do trauma são distribuídas na raiz ao ponto de promover a fratura da mesma, podendo ou não estar associada à fratura da coroa.

Geralmente pode-se observar sangramento ao redor da gengiva do dente. O prognóstico varia de acordo com o local da fratura. Em casos de fratura do terço médio da raiz, a extração do dente é indicada.

C – Lesões nas estruturas periodontais

Dependendo do tipo de fratura dental, as lesões nos ligamentos periodontais podem ocorrer simultaneamente, piorando o prognóstico do caso.

Concussão

Consiste no simples trauma ao ligamento periodontal. Pode-se visualizar pequeno sangramento decorrente da gengiva e não ocorre movimentação alguma do dente do seu alvéolo (loja óssea na qual o dente está inserido).

Dentre as lesões, é a de melhor prognóstico, pois geralmente só requer tratamento para aliviar o incômodo que cessa em poucos dias.

Analgésicos e antiinflamatórios podem ser utilizados. Remover qualquer contato dentário que o dente possa ter também ajuda na cicatrização do mesmo. Lembro aqui que a remoção do contato dentário ocorre apenas durante o processo de cicatrização.

Subluxação

O dente em questão apresenta certo grau de mobilidade, mas ainda não há deslocamento do alvéolo dentário. Observa-se sangramento decorrente do sulco gengival podendo ocorrer escurecimento do dente, decorrente da hemorragia no interior do dente.

O tratamento é semelhante ao da concussão. Medicações para o alívio da dor e remoção dos contatos são uteis para ao conforto do cliente. Em casos de escurecimento, pode-se optar por técnicas que reduzam ou eliminem o problema, como o clareamento.

Contudo, como o escurecimento é de dentro para fora, o clareamento mais indicado será o interno, tendo a necessidade obrigatória de realização do tratamento de canal. Isso deve ser discutido com o dentista. No caso de envolvimento da polpa, o tratamento de canal estará indicado.

Luxação

Ocorre o deslocamento do dente do seu alvéolo, provocando a ruptura de fibras periodontais. Na maioria dos casos, além de lesões dentárias e nos ligamentos, os tecidos orais (lábios, língua, bochechas) são afetados. Fraturas ósseas também podem ser observadas.

A luxação pode ser lateral (deslocamento do dente para lateral), extrusiva (deslocamento do dente para fora do alvéolo, contudo, não saindo completamente) e luxação intrusiva (o dente entra no alvéolo podendo até desaparecer na gengiva). Destas, a última apresenta o pior prognóstico.

O tratamento da luxação lateral e extrusiva é o reposicionamento do dente no seu alvéolo com posterior fixação por período estabelecido pelo dentista.

Este também avaliará a necessidade de tratamento de canal. Na dentição decídua, no caso da luxação extrusiva, opta-se por não colocar o dente no lugar, pela possibilidade de lesão no germe do dente permanente.

Já na luxação intrusiva, o dente pode ser deslocado por métodos estabelecidos pelo dentista para cada situação.

Se os dentes estiverem no período de erupção, tanto na dentição decídua quanto na permanente, há grande possibilidade de que estes dentes reerupcionem, voltando à posição de origem.

Contudo, se no exame radiográfico, os dentes de leite estiverem em contato com o germe do dente permanente, a extração do dente estará indicada visto o risco de lesão no dente permanente. Estas lesões podem causar desde manchas até malformação do dente.

Exarticulação ou avulsão dentária

Nesta situação, o dente sai por completo do alvéolo dentário, ocorrendo ruptura total dos ligamentos periodontais.

O prognóstico aqui depende da agilidade do tratamento. O tratamento consiste em reposicionar o dente em questão na sua loja óssea e colocar uma fixação por período determinado pela gravidade do caso. Contudo, alguns cuidados que poucas pessoas sabem são fundamentais para o sucesso do tratamento.

O dente deverá estar hidratado para conservar as fibras dos ligamentos periodontais. Autores discutem qual seria o ambiente mais apropriado (leite, saliva, água, soro fisiológico, etc.), todavia é consenso que o dente deverá estar hidratado.

Caso não haja nenhum destes ambientes, coloque o dente na boca, no espaço entre a bochecha e os dentes.

Não coloque entre a língua e os dentes, pois há maior chance de engolir o dente. Lembro aqui que esta situação é diretamente proporcional ao tempo de procura ao dentista. Estudos mostram que, nos primeiros 30 minutos, a chance de sucesso é acima de 90%.

4 – Traumatismo dental x práticas esportivas

As práticas esportivas aumentam a prevalência de traumas dentais, variando de esporte para esporte. No mercado, há protetores bucais que diminuem ou evitam lesões nos tecidos dentais (foto).

Eles são indicados para indivíduos que praticam esportes com maior chance de contato, logo, de trauma dental. Eles são individuais, confeccionados com material confortável para se adaptar aos dentes do cliente.

5 – Trauma dental x respiração bucal x selamento labial

A ausência de selamento labial faz com que os dentes anteriores percam a proteção labial e fiquem mais expostos com agentes físicos, aumentando a chance de trauma nesse local. Indivíduos que são respiradores bucais também apresentam este problema.

traumatismo dental selamento labial

6 – Recomendações após o traumatismo dental

As recomendações são importantes para o sucesso do tratamento:

Mantenha a calma. Ficar estressado no momento só vai piorar as coisas. Caso a vítima seja seu filho (a), tente não passar seu nervosismo a ele;

Na presença de sangramento abundante, pressione o local com uma gaze ou um pano limpo, para promover hemostasia (estancamento) por compressão no local;

Caso tenha ocorrido fratura dental ou deslocamento do dente por completo da cavidade oral, preserve o dente ou parte dele em solução aquosa, para evitar danos maiores. Este passo é muito importante para o prognóstico do caso;

Procure o dentista o mais breve possível. Lembre-se que o prognóstico está ligado diretamente à velocidade de atendimento.


Muitas vezes, infelizmente, o traumatismo dental não pode ser evitado, mesmo que seguíssemos à risca as recomendações. Em se tratando de crianças pequenas, a situação piora.

Porem, tendo consciência do problema e das maneiras de evitar que tal acidente ocorra, a diminuição da ocorrência do trauma dental é inevitável. Em caso de ocorrência, a procura ao dentista deve ser feita o mais breve possível.


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Caso haja alguma dúvida, não hesite em perguntar abaixo! Mande sua dúvida que farei de tudo para te ajudar!

Grande abraço!

Wilson Correia Jr.

 

Comment on "→ Traumatismo dental (dente quebrado). O que fazer?"

  1. Meu amigo passei para conhecer seu blog ele é not°10 fantástico seu trabalho, desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
    Um grande abraço e tudo de bom
    Ass:Rodrigo Rocha

  2. Bruna Zanetti

    Realmente este blog é muito esclarecedor ,parabens….

  3. Anônimo

    Nossa, eu estou com o dente quebrado ea fratura dele e grande precisando de uma nova coroa sera que tenho que fazer canal mesmo eu nao sentindo algum encomodo…. Tipo eu sinto ele como se estivesse com o dente normal… E para piora e o dente logo da frente o de baixo..

  4. Prezada,

    Caso seja indicado uma coroa ou um pino intradentinário, é necessário realizar o tratamento de canal.

    Boa sorte!

  5. Olá, pesquisando sobre causas da dor de dente, encontrei o seu blog, e achei muito interessante!! O meu filho está sentindo dor no incisivo lateral, ele foi ao dentista, foi tirado uma radiografia, e não possui cárie. O problema é que o dente ficava batendo no dente de baixo, criando um trauma, inclusive está levemente mole, o dentista gastou os dentes e receitou anti-inflamatório, para ver se melhorava a dor, mas infelizmente não melhorou! Ele sugeriu o tratamento de canal, mas achei desnecessário, pelo fato do dente não estar cariado! O que o senhor acha? O que pode ser essa dor? Meu filho tem 18 anos.

  6. Prezado(a) paciente,

    O blog passou por problemas na plataforma bem como na atualização das postagens e comentários. Por esse motivo, passei algum tempo sem responder as dúvidas. Desde já peço desculpas pela ausência. As dúvidas serão respondidas, mesmo que se tenha passado um bom tempo.

    O tratamento conservador foi realizado (desgaste dentário para aliviar a oclusão). Se há um mal posicionamento dentário, a correção pode aliviar o problema. Alguma outra solução foi dada?

    No aguardo.

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